Desvendando os Mistérios da Mente Para Uma Vida Melhor

Aqui vamos compartilhar relativamente recentes e importantes descobertas da neurociência que ajudam a entender como pensamos e que quer dizer “focar” a mente, o que quer dizer ter a mente “rodando em pensamentos” e o que isso implica para a prática de acalmar a mente e meditar. Este conhecimento lhe dará mais poder para conduzir sua mente e, com isso, ter uma vida melhor.

Veja aqui meu vídeo sobre este tema.

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Considero que estamos vivendo uma era abençoada por ter acesso tanto ao conhecimento clássico da espiritualidade do yoga, que explorou os limites do funcionamento da mente rumo à transcendência, como da neurociência, que agora vem revelando como o cérebro funciona.

Na minha concepção e na minha prática espiritual pessoal, vejo que estes conhecimentos de como o cérebro funciona são de grande valia na aplicação das práticas e conhecimentos do yoga. Eles trazem um novo insight, que nos ajuda a não desenvolver interpretações erradas do que se pede nos textos sagrados do yoga.

Aqui vamos explorar a relativamente recente descoberta de 3 principais redes neurais que dominam nossa experiência da vida: a rede executiva central, a rede modo padrão e a rede saliente.

Enquanto inicialmente se falava muito das funções de diferentes áreas específicas do cérebro, a neurociência progrediu para falar de redes neurais, ou seja, um agrupamento de regiões do cérebro, funcionando ao mesmo tempo. Para entender melhor, pense num prédio cheio de computadores. Invés de falar o que cada computador faz, agora estamos falando como diversos computadores trabalham numa mesma função, em rede.

A Rede Executiva Central é aquela que fica ativada quando você está totalmente focado numa única função, ou seja, “executando” algo que requer sua atenção. Por exemplo, ao estar aqui escrevendo este artigo, eu estou totalmente focado nisso. Não poderia estar aqui escrevendo e ao mesmo tempo pensando em alguma conversa de ontem, ou em que eu vou fazer hoje à noite. Totalidade na ação, eu recomendo frequentemente. Foco total naquilo que você está fazendo. Isso são expressões para dizer “acione sua rede executiva central!”.

A Rede Modo Padrão é aquela onde sua mente está divagando. É tão comum seu uso que recebe este nome: modo padrão. Respire aliviado ao saber que você não é doido, com pensamentos sempre rodando na sua cabeça. É natural. É o que o cérebro faz quando não precisa de estar totalmente focado em algo que requer toda sua atenção.

Não só é natural o modo padrão, mas é saudável e vital. É no modo padrão que você processa os fatos da vida. É quando você digere e trabalha as emoções vividas e situações sociais. No modo padrão você faz novas conexões de ideias, tem novas sacadas e inspirações.

E, por fim, temos a Rede Saliente. O trabalho dela é ver se tem algo “fora do lugar”, saliente, para chamar sua atenção. Quando detecta algo que precisa de sua atenção, ela interrompe o processo de uma ou outra rede. É como se fosse o interruptor de uma para outra rede.

Por exemplo, você está dirigindo na estrada, tranquilo. Há muito sons do pneu, do asfalto, do motor, mas são “iguais”. Por estar tranquilo, você fica à vontade para pensar em diferentes coisas, ouvir música ou conversar com outros no carro. Ou seja, dá para desligar a rede executiva central, pois a “execução” do ato de dirigir não requer seu foco total naquela situação. Mas daí surge um barulho estranho, novo. Digamos que surge um barulho no motor, de lata batendo. Imediatamente, seu modo saliente interrompe seu modo padrão. Você vai desligar a música, encerrar a conversa e parar de pensar sobre isso ou aquilo. Agora, ligou a rede executiva central, atenta a descobrir o que está acontecendo.

Por isso que inúmeras pesquisas mostram a importância de você desligar notificações de mídia social e e-mail, quando está trabalhando em algo. Você precisa se precaver para não ter sua rede saliente desligando sua rede executiva central para ver a última mensagem recebida, se quiser desenvolver um trabalho de qualidade, com eficácia.

O interessante é o que acontece quando começamos a dominar, a ter comando, sobre estes processos. Isso que o yoga pede de nós.

Por exemplo, pessoas criativas tem uma ponte forte, usando as duas redes, a executiva e a rede modo padrão, simultaneamente. Veja este artigo na Revista Superinteressante que cita uma pesquisa nesse sentido.

Eu já tive muitos insights fazendo isso. Grandes inspirações e novas visões, juntando o que eram antes conhecimentos distintos, aparecem quando você consegue estar “totalmente focado na divagação da mente”. Chamamos isso também de pensamento profundo.

Não é uma divagação solta. Não é aquela sensação de perda de tempo, de sua mente pulando de uma coisa a outra, movida por ansiedade e confusão. É um foco na exploração de ideias e conceitos. Onde a mente está livre para pensar e ver novos ângulos, antes não explorados. Há uma concentração, no sentido que sua mente está divagando, mas dentro de um limite imposto por sua atenção. Não só isso, mas é uma divagação “observada”, onde você está sendo testemunho da movimentação. Você permanece consciente de seu papel como observador, reconhecendo o que tem de valor no processo, garimpando as pepitas de ouro do rio de pensamentos.

Quando falamos em acalmar a mente, estamos falando de dominar o processo modo padrão, reduzindo a latitude das mudanças de pensamento, mantendo uma concentração da mente, mesmo enquanto solta. Por isso é importante um ato físico externo, como ficar no silêncio, ou fechar os olhos, procurar um lugar silencioso, ou sentar com a coluna ereta, para impor este estado no cérebro.

Esvaziar a mente significa iniciar a rede executiva central em “não fazer nada”. É tão difícil isso, porque é muito fácil “não fazer nada”, portanto logo a rede saliente desliga a rede executiva central de tarefa tão fácil e liga a rede modo padrão, para aproveitar os neurônios para processar informações e emoções.

Quando praticamos técnicas de mindfulness, o que estamos fazendo é nos treinando a ligar a rede executiva central em diferentes sensações ou ações. Por exemplo, foco na respiração. Não é só respirar. É engajar a rede executiva central em deliberadamente só respirar. De novo, é difícil manter o foco só na respiração, pois a rede saliente logo determina que isso não requer o poder de processamento do seu cérebro, e então liga o modo padrão, trazendo pensamentos e emoções a frente, mesmo enquanto está deliberadamente respirando lenta e gradualmente.

A meditação em último grau, que vimos que foi praticada por yogis do caminho de meditação pura do yoga, era essa intensa e pura meditação em um único ponto. Esses yogis, de alguma forma, com longo treino e pranayama (técnicas de respiração), parece que conseguiam desligar a rede saliente, tirar ela do ar mesmo, e assim poder ficar puramente na rede executiva central.

Temos várias histórias nos relatos do yoga, de yogis tão focados em sua meditação que não conseguiam perceber pessoas se movimentando a seu redor, falando com eles, chuva, vento, frio, calor… nada tirava sua atenção que podia durar horas ou dias.

Os leitores do famoso texto Srimad Bhagavatam vão lembrar o momento crucial quando o Rei Pariksit chega no ashram de um yogi, com toda sua comitiva – imagine cavalos, espadas, escudos –, pedindo um copo d´água e o yogi não escuta nada. O Rei fica com raiva e até coloca uma cobra morta no yogi, e ainda assim ele nada sente. Só depois, quando ele escolhe interromper sua meditação é que repara a cobra morta em volta de seu pescoço, sem entender como ela foi parar lá. Mais extremo ainda, temos o exemplo de Hiranyakashipu meditando enquanto seu corpo é consumido lentamente por formigas. Eu, e provavelmente você, não teremos este tipo de foco na nossa meditação.

Assim, não devemos cultuar a ideia artificial que nós vamos sentar para meditar e nossa mente vai ficar totalmente focada no mantra ou no vazio.

Nosso foco exclusivo em único ponto vai acontecer por pequenos momentos. Logo sua rede saliente vai desligar o interruptor da rede central executiva e lhe jogar para a rede modo padrão. Aí você traz de volta. Aí a rede saliente interrompe novamente sua meditação focada. E você traz de volta. Este exercício é muito útil e funciona. Traz paz e traz mudanças fisiológicas no cérebro. É você aprendendo a comandar a mente. E cada segundo que consegue manter seu foco total num mantra, na respiração, no “eu sou” traz gigantesco bem-estar, como qualquer um pode imediatamente experimentar.

E a outra forma de meditar é como descrevi acima, a de ficar como observador da mente. Você se torna o observador concentrado da sua mente, guiando o modo padrão, conduzindo os pensamentos, extraindo importantes conclusões e conseguindo cura para emoções recentemente experimentadas ou até mesmo enterradas, sem se apegar aos pensamentos, deixando-os fluir, lembrando que você não é sua mente, nem seus pensamentos.

No cultivo devocional, na prática de meditação mântrica, ou japa, como eu recomendo com o maha-mantra, você pode focar sua mente totalmente no som do mantra, e também deixar mente concentrada, observando ela divagar sobre assuntos ligados a sua vida espiritual, ensinamentos espirituais que está tentando absorver, seus dharmas, sua devoção, sua existência, e Deus.

Espero que estes conhecimentos lhe ajudem a ter uma prática de meditação menos frustrante e a conduzir melhor sua mente para uma vida mais feliz.

Descubra outros conceitos importantes do funcionamento do cérebro e da mente, tirados da antiga tradição espiritual do yoga, da psicologia e da neurociência no livro “O Caminho 3T” (www.3T.org.br).

 

 

 

Veja o que estão falando do livro “O Caminho 3T”: “A minha vida mudou para melhor depois que conheci o Caminho 3T” – Cristina Pradines

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