Num mundo tão turbulento, é possível ser feliz? Sem saber o dia de amanhã, é possível ser feliz? Aqui vamos ver como encontrar a felicidade diante da incerteza e da insegurança inevitáveis da vida.
Veja aqui meu vídeo sobre este tema.
A primeira coisa que temos que fazer é sair do paradigma da fantasia, onde achamos que a felicidade vai ser encontrada em um conjunto de fatores externos. Como que um “local” onde temos que chegar para ser feliz.
Chamamos isso da falácia da chegada: a ideia falsa de que podemos chegar num ponto da vida onde vamos encontrar paz e contentamento pelas nossas conquistas mundanas.
Tipicamente as pessoas pensam em termos de ter uma casa, casamento, filhos, grana no banco, saúde, etc. Corremos atrás dessas coisas como se elas fossem nos trazer felicidade. Só que isso ignora o óbvio: as pessoas nas grandes mansões, nas posições mais altas do governo e do mundo corporativo, os mais ricos etc. não vivem vidas de paz e felicidade.
Essas pessoas também estão cheias de ansiedade, medo, dúvida e frustração. Muitos se tornam dependentes químicos, sofrem de depressão aguda e até cometem suicídio.
O fato simples, mas muito ignorado, é que a felicidade não se dá na superfície da vida. Isso é uma excelente notícia, pois torna a felicidade acessível a todos.
Não que você não deva naturalmente tentar ter essas coisas. Nada de errado em buscar viver da melhor forma possível, ter um bom casamento, reserva financeira, ter um bom carro etc.
Buscar as conquistas materiais não vai de contra o estado de equilíbrio eterno, portanto que 1) você priorize sempre ser a melhor pessoa que pode, ou seja, priorize seu dharma, 2) fique com a mente no aqui e agora e 3) fique ciente que essas conquistas não vão trazer felicidade verdadeira.
Temos que aceitar que o perigo e a incerteza são inevitáveis para nós almas encarnadas. Tem uma frase famosa no texto mais importante da tradição de Krishna, chamado o Srimad Bhagavatam, que diz padaṁ padaṁ yad vipadāṁ: há perigo a cada passo.
Mas aqui cabe uma reflexão importante. Pense bem. O que está sob risco? A visão espiritual nos mostra que o perigo a cada passo está nas coisas superficiais. Ou seja, o que está sob risco é tudo aquilo que não é você.
Você mesmo é uma centelha divina. O primeiro ensinamento de Krishna na Bhagavad-gita é que nós somos almas eternas, não-nascidas, primordiais e completamente invencíveis. Nada pode nos afetar: nem espada, nem fogo, nem água, nem vento, Ele explica.
Mesmo que não compartilhe desta visão transcendental, ainda assim basta observar sua consciência para perceber que sua consciência e seu corpo são diferentes. Basta ver que seu estado de espírito não está atrelado a sua circunstância externa. No mesmo emprego, nos mesmos relacionamentos, com a mesma conta bancária, com o mesmo estado de saúde, você observa como seu bem-estar varia enormemente.
Portanto, o que está “sob risco” constante por forças alheias não é você.
Um dos ensinamentos mais importantes do yoga é esse: você está sob risco apenas de você.
O risco real é só com você mesmo. O risco de não ser você de forma autêntica, não se conhecer. O risco de machucar outros. O risco de não amar. O risco de desperdiçar a vida, preso no paradigma da fantasia, com a consciência superficial. Estes, sim, são os riscos e perigos reais da vida. E só dependem de você.
Estes riscos, sim, são marcantes e dolorosos. Estes, sim, acabam com sua vida. Devemos ter muito cuidado em evitá-los, pois podemos evitá-los com o nosso poder espiritual. Já os acontecimentos externos, não estão sob nosso comando.
Assim, aceitamos a vida como é, sem medo. Aí, com entusiasmo, fazemos o melhor que podemos com a realidade hoje, sempre com foco na qualidade de nossas ações e no foco de nossa mente. Sabemos que nossa felicidade se dará nisso, não no resultado externo, nem tampouco no dia de amanhã.
Em essência isso significa viver os pilares do Caminho 3T, a saber: 1) foco no aqui e agora, 2) foco no dharma e, para realmente adoçar a vida, 3) foco em bhakti, estado de devoção transcendental.
Quando vivemos assim, na mentalidade “aceito, confio, agradeço e entrego”, entendemos que a incerteza e insegurança externa não podem afetar nossa felicidade, que é construída de dentro para fora e só depende de nós mesmos.
Na verdade é isso. Nada é permanente, tudo está em movimento e se transformando. Vivemos na incerteza, mas precisamos aprender a viver um dia de cada vez , estar no presente. Não há necessidade de nos ocupar com o que não está acontecendo no exato momento, e sendo assim, deixamos de sofrer por antecipação e muitas vezes por coisas que nunca acontecerão.
Não é tão simples assim, pois não nos foi ensinado a termos esse foco, a confiar, soltar e entender que tudo é como tem que ser , e tudo está certo. Ninguém controla nada. Então, fazer o que de melhor pudermos e confiar, é a medida certa.
Para isso é preciso treinar e estarmos atentos em nós mesmos.
Assim entendo!
Gratidão!!
Excelente reflexão, Prabhu!
Todas as nossas ações no plano material acarretam, inevitavelmente um risco. Estamos a todo tempo “flertando” com o perigo. Mas esse flerte se dá em um plano meramente material. Se estivermos focados no nosso dharma, sólidos no propósito que Krishna nos deu, realmente devocionados, seremos fortaleza em meio ao caos.
Obrigada!
Hare Krishna!