Melhor Entendendo a Idéia do Guru

por Giridhari Das

Um dos assuntos que costumam confundir a mente tanto de iniciantes como dos mais experientes em consciência de Krishna é a questão do guru (mestre). Irei aqui abordar alguns pontos básicos sobre o assunto, com o objetivo de sanar aquilo que entendo como principal fonte de equívocos.

Uma Tradição de Respeito

Toda a tradição oriental em geral, e a tradição védica em especial, dão grande importância à figura do mestre. Para melhor entender esta questão, é importante frisar não tratar-se de uma questão estritamente espiritual. Na cultura védica, não somente o mestre, mas toda pessoa mais velha é tratada com um grau de respeito e veneração que não encontramos na moderna cultura ocidental. Tal respeito não era algo dirigido exclusivamente ao mestre espiritual, senão que ao pai, mãe, tios, tias, avôs, avós, irmãos mais velhos ou simplesmente qualquer pessoa de mais idade ou de reconhecida sabedoria ou poder. A veneração ao mestre não era portanto restrita ao mestre espiritual, senão que a qualquer mestre ou professor – de gramática, arte marcial, política, etc. No ocidente, a tradição foi trazida enfatizando apenas a figura do mestre espiritual (e um pouco nas escolas de arte marcial), dando-nos uma visão desequilibrada da cultura que deu origem a esses ensinamentos. Assim, um ocidental que vê um mestre espiritual sentado num grande assento, sendo abanado, com pessoas oferecendo reverências aos seus pés, etc., poderá ficar muito perturbado, num clássico caso de choque de cultura, não entendendo que tal nível de respeito e veneração seria igualmente encontrado na cultura de origem em situações perfeitamente mundanas. Justamente por conhecer esta questão cultural, muitos mestres espirituais na ISKCON hoje rejeitam ou limitam drasticamente este tipo de demonstração de veneração e respeito.

O Elemento Psicológico

Quanto maior o respeito e veneração que temos por alguém, mais a sério levaremos suas instruções. Isso é um fato inquestionável. Esta é a razão real e prática por trás da tradição de venerar o mestre. Nosso interesse no assunto, e consequentemente nosso poder de absorção dos ensinamentos, estará diretamente ligado ao grau de veneração e respeito que temos em relação ao professor.

Já reparou que às vezes recebemos uma instrução absolutamente simples mas que, por ter sido apresentada por uma grande figura, ela tem nos causa um impacto profundo? Nossa mente funciona assim.

Por essa razão que no Bhagavad-gita, 4.34, onde encontramos a instrução de Krishna para que busquemos um guru para melhor entender a vida espiritual, é também recomendada a “busca de respostas com uma mentalidade submissa”. Caso nos aproximemos de alguém de igual para igual ou com uma atitude de desafio, já estaremos com a mente preparada para sair do encontro igual a quando entramos, ou ainda mais confiantes de que já sabíamos a resposta.

Se assistirmos a uma palestra pensando “ah, é mais uma pessoa expressando sua opinião”, então é quase certo que, independente de quem seja ou do que tenha sido dito, sairemos convencidos que, de fato, foi “mais uma pessoa falando sua opinião”! Isto, no linguajar comum, é o que chamamos de ter a mente ou coração aberto ou não. O que “abre” o coração e a mente são o respeito e veneração que temos em relação à pessoa que transmite o conhecimento ou lidera a vivência.

No que tange ao conhecimento transcendental, este ponto é especialmente importante, uma vez que, na metafísica, as coisas não são assim tão óbvias. No caminho espiritual, é necessário um pouco de fé inicial para que a pessoa possa, com a prática e amadurecimento, ver as coisas como elas são. Se alguém está lhe provando algo mundano, como, digamos, a melhor qualidade de um carro sobre outro, não será necessário nenhum respeito ou veneração – basta observar. Mas se alguém compartilha consigo um fato metafísico, uma informação sobre Deus, sobre a alma, sobre como melhor agir no mundo para avançar espiritualmente, sobre a melhor prática de meditação, quais livros devem ser estudados, etc., então seu grau de aceitação daquilo que está sendo dito será absolutamente dependente do grau de veneração e respeito em relação à pessoa lhe dando essas instruções ou, no mínimo, à instituição ou escola que ela representa. Se tivermos certeza de que a pessoa (ou instituição) que nos transmite o conhecimento é digna de nosso maior respeito, então acataremos as sugestões com grande afinco e seriedade. Consequentemente, se a instrução for de fato válida, avançaremos rapidamente. Krishna enfatiza esse ponto Bhagavad-gita, 4.40, em um capítulo que trata sobre conhecimento transcendental, explicando que uma pessoa que duvida não tem felicidade nem nesse mundo, nem no próximo. Resumindo, se não cultivarmos respeito pela fonte de conhecimento transcendental, não será possível fazer qualquer avanço espiritual; e quanto mais respeito e veneração possuirmos, mas fortemente assimilaremos o conhecimento transmitido.

Diferentes tipos de Guru

Existem basicamente três tipos de gurus: diksha-guru, siksha-guru e vartma-pradarshaka-guru (também conhecido como partha-pradarshaka). Diksha é aquele que dá iniciação. Siksha é o que dá o conhecimento – a palavra “siksha” significa “instrução”. Vartma-pradarshaka é aquele que primeiro mostrou o caminho, que lhe introduziu ao processo. Uma mesma pessoa pode ser um, dois ou os três para você.

“Patha-pradarsaka-guru significa “o guru, ou mestre espiritual, que mostra o caminho.” Tal guru às vezes é chamado siksha-guru. Embora Narada Muni fosse seu diksha-guru (mestre espiritual iniciador), Suniti, sua mãe, fora a primeira pessoa a dar¬-lhe instruções sobre como alcançar o favor da Suprema Personali¬dade de Deus. É dever do siksha-guru ou do diksha-guru ensinar o discípulo da maneira correta, e cabe ao discípulo executar o pro¬cesso. Segundo os preceitos shastricos, não há diferença entre siksha-guru e diksha-guru, e de um modo geral o siksha-guru posteriormente torna-se o diksha-guru.” (Significado, SB 4.12.32).

Tradicionalmente não encontramos qualquer destaque para a importância do diksha-guru acima dos outros dois tipos de guru, tal como é praticado na ISKCON hoje. Interessantemente, o termo diksha no Srimad Bhagavatam é usado apenas como parte de um processo ritualístico, tal como a realização de um elaborado yajna (1). No Caitanya-caritamrta o termo é usado para iniciação (2). Jiva Goswsami define diksha em seu Bhakti-Sandarbha, verso 283, como “o processo pelo qual uma pessoa pode despertar seu conhecimento transcendental e livrar-se de toda atividade pecaminosa”. Ou seja, não existe algo mágico ou místico no processo de diksha – unicamente o que importa é a transmissão de conhecimento e o aceitar desse conhecimento para então viver a vida em consciência de Krishna.

Em geral, simplesmente havia a transmissão de informação, de ensinamentos transcendentais, e isso por si só já consolidava o relacionamento guru-discípulo. Não há evidência alguma de cerimônias para consolidar o relacionamento. Todo o respeito e veneração que a tradição e as escrituras sugerem que seja dada ao guru referem-se ao guru que está lhe transmitindo o conhecimento ou lhe ajudando no caminho da consciência de Krishna, pois esse é o foco central do relacionamento guru-discípulo.

Neófitos muitas vezes pensam que somente sannyasis (swamis ou homens na ordem renunciada) podem ser gurus. Pensam também que uma coisa é sinônima da outra, ou que o voto de sannyasi é uma pré-qualificação para ser guru. Interessantemente era até o contrário! Pelas regras tradicionais védicas de pancaratra, apenas brahmanas casados podiam ser gurus (3). Membros de nenhuma outra classe, incluindo sannyasis, podiam dar iniciação. Pela própria força dos ensinamentos do Senhor Caitanya, sabe-se que todos podem ser gurus, não importa se casados ou não. Na ISKCON temos gurus de todas os “ashramas”: brahmacaris (celibatários que não fizerem voto de celibato vitalício), grihasthas (casados) e sannyasis (homens na ordem renunciada com voto de celibato vitalício). Tradicionalmente, e pelas leis atuais da ISKCON, mulheres e homens de qualquer ashrama podem igualmente ser gurus.

Prabhupada e Gurus

Aqueles que se aproximam da consciência de Krishna lendo os livros de Sri Srimad A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, o fundador-acharya da ISKCON, encontram grande ênfase na importância do guru. Srila Prabhupada encorajou fortemente seus seguidores a desenvolverem o mais elevado respeito em relação ao guru, explicando que o guru deve ser visto como sendo igual a Deus, no sentido de ser Seu representante legítimo. Prabhupada explicava a visão que se tem na tradição de que a instrução do guru é a vida e alma do discípulo bem sucedido. Prabhupada viveu ele próprio esse ensinamento, aceitando as ordens de seu mestre espiritual, que pediu para ele ensinar a consciência de Krishna no ocidente como sua meta prioritária na vida. Ele acatou essa ordem como sendo seu destino e, em 1965, aos 69 anos de idade, sem dinheiro, sem planos e com quase nenhum conhecimento sobre os EUA, ele embarcou para Nova Iorque para cumprir a ordem de seu mestre espiritual. Na ISKCON temos incontáveis histórias de discípulos de Srila Prabhupada que também tiveram este mesmo grau de “entrega” e acataram as ordens de Prabhupada para pregar em paises distantes que eles não conheciam, ou de milagrosamente multiplicar a quantidade de livros distribuídos ou de construir maravilhosos templos – tudo com enorme êxito.

Prabhupada enfatizou que um guru deve ser “um devoto puro”. Em geral, entende-se “devoto puro” como uma alma perfeitamente realizada, absolutamente desprovida de qualquer condicionamento mundano, falhas, etc. Mas é bom lembrar que Prabhupada também uma vez disse que todos seus discípulos (naquela época quase todos novatos com poucos anos de consciência de Krishna) eram devotos puros. Entende-se neste contexto que Prabhupada também via como devotos puros todos aqueles que praticam a consciência de Krishna dentro dos parâmetros estabelecidos para os iniciados, ou seja, seguindo os princípios básicos morais e cantando no mínimo 16 voltas de japa por dia.

Prabhupada enfatizava ainda mais frequentemente uma definição bem mais simples do que é ser um guru:

“yare dekha, tare kaha ‘krsna’-upadesa
amara ajnaya guru hana tara’ ei desa”

– Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 7.128

Este verso, falado pelo próprio Senhor Krishna Caitanya, diz: “Instrua todos a seguirem os ensinamentos do Senhor Krishna. Dessa forma, torne-se um mestre espiritual (guru) e tente liberar todos aqui.” Prabhupada citou esse verso centenas e centenas de vezes em entrevistas em aeroportos, em seus significados nos livros, em aulas, em conversas, etc. Ele citou esse verso em todos os continentes que visitou e em todo tipo de ocasião! Prabhupada gostava de explicar que ser guru é muito fácil: basta repetir as palavras do guru e de Krishna. Ele mesmo dizia que, se ele tinha algum mérito, é porque ele estava simplesmente transmitindo as instruções de Krishna e seu guru fielmente. Assim, ele pedia a todos que se tornassem gurus, explicando que esta era a ordem do próprio Senhor.

Prabhupada explicou muitas vezes que um guru deve ser um “uttama adhikari”. Isso pode criar um pouco de confusão, uma vez que a definição de “uttama adhikari” também é flexível. “Uttama adhikari” é o devoto de primeira classe, definido às vezes como o devoto perfeito, mas também muitas vezes como simplesmente o devoto que vê tudo em relação à Krishna, ou que reconhece em todos os seres vivos o ser transcendental (a alma). Outra definição de “uttama adhikari” é aquele que consegue explicar bem os ensinamentos de Krishna, rebatendo qualquer argumento que contraria as escrituras. Alguns também ignoram que até mesmo um “kanistha-adhikari”, o devoto de terceira classe, pode se tornar um guru, com a única condição de que seus discípulos sejam menos avançados que ele.(4)

Outro erro comum é achar que um guru é um ser infalível em termos de conhecimento mundano. Mesmo um grande guru não tem obrigação de ter conhecimento material perfeito e pode esquecer algo, repetir um fato mundano incorreto, etc. Prabhupada deixou clara a instrução que guru não é Deus, não é onisciente. Guru é aquele que prega bhakt(5). Não devemos, portanto, achar que o guru é conselheiro matrimonial, financeiro, ocupacional, etc. Quando um guru está repetindo e explicando as instruções de Krishna, das escrituras, ele é perfeito. Quando ele está fazendo um comentário sobre história, biologia, geografia, ciências políticas, psicologia, etc., ele é está sujeito a cometer enganos.

Destaca-se o fato de não haver, tanto nos ensinamentos de Prabhupada, como nas escrituras em geral, praticamente nenhuma atenção à distinção entre um tipo de guru e outro. Guru é guru. De fato, as escrituras alertam que distinguir entre o diskha-guru e o siksha-guru, achando que um é mais digno de respeito que o outro, é uma grande ofensa. Alguém que está ensinando a consciência de Krishna de forma correta, com base nos ensinamentos de Krishna, deve ser aceito como um guru. A pessoa que está recebendo esses ensinamentos deve ter a devida apreciação e respeito pela ajuda valiosa que esse guru está lhe prestando.

Em suma, o estudo abrangente dos ensinamentos de Srila Prabhupada permite obter uma visão clara de que é obrigação de todos agirem como gurus, pois esta é a ordem do próprio Senhor Caitanya Mahaprabhu. Prabhupada criou a ISKCON para difundir a consciência de Krishna. Difundir significa ensinar e ensinar é o que um guru faz. Prabhupada disse: “Guru significa alguém que conhece a ciência de Krishna e ensina corretamente. Só isso.”(6)

Acharya e Guru

Muitas vezes os termos acharya e guru são utilizados como sinônimos. Mas há uma diferença. No capítulo 6 do Néctar da Devoção (a apresentação do Bhakti-rasamrta-sindhu feita por Srila Prabhupada), encontramos uma distinção que é feita entre acharya e guru. Lá está escrito que devemos “seguir os passos dos grandes acharyas sob a orientação de um guru”. Entende-se com isso que o acharya é aquele que estabelece um programa específico de consciência de Krishna e o guru é aquele que ensina as pessoas como seguir esse programa. Srila Prabhupada é um grande acharya, que transplantou o conhecimento da consciência de Krishna para o ocidente. Ele escreveu dezenas de livros em inglês para o povo ocidental e implantou certos padrões, como cantar no mínimo 16 voltas por dia do maha-mantra Hare Krishna. Outros acharyas anteriores à Prabhupada estabeleceram processos diferentes, como o cantar de 64 voltas, ou o cantar de diferentes mantras(7). Prabhupada também definiu requisitos específicos para 1ª e 2ª iniciação (harinama e brahmínica), permitiu que mulheres morassem no templo como bhramacarinis e que servissem no altar como sacerdotisas. Prabhupada enfatizou também a importância de servir à instituição que ele criou (a ISKCON) e da distribuição de livros da consciência de Krishna e outros detalhes mais. Este é o trabalho de um acharya. Todos os gurus seguidores de Srila Prabhupada ensinam o processo tal como estabelecido por ele.

Existe um grupo de seguidores de Srila Prabhupada que se desviaram da ISKCON, chamados ritviks, que acreditam que Prabhupada queria ser o diksha-guru de todos que viessem para a ISKCON, mesmo após sua morte. A idéia de alguém ser diskha-guru após a morte é algo absolutamente inexistente na cultura védica. Não há problema em ser siksha-guru, pois os ensinamentos de um guru ou acharya podem ficar preservados na forma de livros, gravações, etc. Mas diksha é específico à presença física do guru. Todas as vezes que o termo diksha é usado nas escrituras, refere-se à presença física do guru e discípulo. O que esses seguidores não entendem é que Prabhupada reservou para si uma posição muito mais importante do que ser diksha-guru. Ele se apresentava como “acharya-fundador”. Essa é a posição eterna e única de Srila Prabhupada: “acharya-fundador da ISKCON”. Como tal, ele é o acharya (mais do que um guru) de todos que se aproximam da consciência de Krishna pela ISKCON ou por seus livros. Ele é também o siksha-guru de todos automaticamente, pois todos os gurus na ISKCON estão transmitindo seus ensinamentos e processo de consciência de Krishna. Mas ele não é diksha-guru de mais ninguém além daqueles que receberam iniciação enquanto ele estava no planeta – e isso não faz a menor diferença. Não há vantagem alguma em ser um discípulo diksha de Srila Prabhupada sobre ser um discípulo siksha. Quem acredita haver diferença, não entendeu o conceito básico sobre o papel do guru.

Gurus na ISKCON

Por ser a primeira instituição na história da consciência de Krishna que se espalhou mundialmente, a ISKCON vive uma situação especial no que diz respeito aos gurus. Enquanto Srila Prabhupada estava no planeta, todos recebiam dele a iniciação diksha. Depois disso, ele escolheu 12 pessoas para darem iniciação em seu nome enquanto ele ainda estava o planeta. Após sua partida, esses 12 foram os primeiros gurus da ISKCON. A ISKCON é administrada por um conselho, chamado de GBC (Governing Body Commission). O GBC cria as leis que regem a instituição, e isso inclui as leis sobre quem pode ser um guru. Com o tempo, o número de gurus aprovados para dar diksha na ISKCON tem aumentado e a tendência é aumentar cada vez mais. Hoje temos cerca de 80 diskha-gurus na ISKCON. Mesmo assim, o sistema cria uma distorção, pois em muitos casos o diskha-guru tem pouco contato com o discípulo antes e/ou depois da iniciação e muitas vezes participa pouco ou nada do processo que leva o discípulo a praticar firmemente a consciência de Krishna. Em outras palavras, muitos na ISKCON têm a presença ativa de siksha-gurus que lhe guiam passo a passo, mas por não serem reconhecidos pela ISKCON oficialmente como gurus, ficam desvalorizados e os diksha-gurus sobre-valorizados sem às vezes ter um papel central de ensinar e guiar o discípulo. Tal situação cria um pouco de confusão, por induzir cultos a personalidades e mistificação do relacionamento guru-discípulo. Ao criar a figura de um guru oficial, cultiva-se o culto ao guru “super-homem”, sob a idéia que o guru é uma figura que, por sua pureza e força, vai misticamente elevar o discípulo a Deus. Isto nada tem a ver com o que um guru realmente é. Por decorrência, quando um desses gurus mistificados demonstra uma falha em sua prática da consciência de Krishna, os mais imaturos ficam perturbados e perdem a fé. Se entendessem que o guru existe apenas para transmitir conhecimento, não ficariam perturbados. Seguiriam firmes em sua consciência de Krishna, gratos pelos ensinamentos recebidos até aquele momento, sabendo que ainda podem obter ilimitada instrução e ajuda do acharya-fundador, Srila Prabhupada, como de tantos e tantos outros na ISKCON.

No verso 15.16 do Bhagavad-gita, Krishna explica que existem dois tipos de seres: os falíveis e os infalíveis. Todos aqueles que nasceram no mundo material por força de seu karma passado são falíveis. Apenas os seres do mundo espiritual (o Reino de Deus), são infalíveis. Um grande profeta e acharya como Srila Prabhupada, por ser um enviado do mundo espiritual, é espiritualmente infalível. Nós, demais mortais, somos todos falíveis, mas mesmo assim temos a obrigação de agir como gurus, pois assim o próprio Senhor nos instrui a fazer. Acreditar que o guru precisa ser uma pessoa infalível enviada do mundo espiritual é fantasia, e as escrituras não apóiam essa idéia.

O sistema atual está sendo re-analisado, existindo propostas para torná-lo mais prático e mais parecido com o sistema tradicional. Uma sugestão do Comitê de Aconselhamento Shástrico (Shastric Advisory Council) é que qualquer membro experiente e bem situado em consciência de Krishna possa exercer função de guru se houver alguém interessado em aceitá-lo como tal, transferindo a responsabilidade de avaliar se alguém é um guru para o discípulo, como mandam as escrituras e recomenda Srila Prabhupada(8), ao invés da instituição. Assim, a pessoa que de fato mais guia, aconselha e cultiva o discípulo, ou seja, o siksha-guru, possa ser também o diksha-guru, como acontecia tradicionalmente.

Conclusão

No Vayu Purana e no Srimad Bhagavatam, encontramos a definição do acharya (ou guru) como sendo aquele que: 1) conhece o significado dos Vedas; 2) vive sua vida de acordo com esse conhecimento e; 3) ensina o processo a outros. Através dos ensinamentos de Sri Caitanya Mahaprabhu e Srila Prabhupada, podemos entender que todos devem ser gurus (seguindo os passos de um grande acharya) e que isto não é difícil de fazer, pois basta ensinar o que aprendeu de Krishna e do acharya, sem distorções. Guru é o professor de assuntos transcendentais. Discípulo é aquele que aprende com ele. Só isso!

O tema se torna confuso nos dias de hoje porque vivemos na era da informação. Por meio da internet, livros, gravações, etc., podemos ter acesso às instruções de tantos grandes acharyas e gurus que ainda estão nesse planeta ou de séculos atrás. Infelizmente também temos acesso a tantos falsos gurus pregando idéias estapafúrdias! Antigamente não era assim. Encontrávamos alguém pessoalmente e dele (ou dela) recebíamos instruções. Esse processo era chamado de diksha. Hoje recebemos informações espirituais de dezenas, senão centenas de pessoas, pessoalmente ou à distância. Com isso, às vezes não fica tão claro quem é nosso guru e assim perdemos aquela intensidade de veneração e respeito que é importante para solidificar em nosso coração o conhecimento sendo recebido.

Uma pessoa que se segue a consciência de Krishna aproximando-se da ISKCON terá então um ou mais siksha-gurus lhe orientando. Com o tempo, ele ou ela obterá um diskha-guru e, acima de todos, estará o fundador-acharya e siksha-guru principal, Srila Prabhupada. Está é sem dúvida, uma posição muito, muito segura!

(1) Veja: SB 4.21.13 e 10.84.45

(2) Veja exemplo da iniciação do Senhor Caitanya por Isvara Puri, CC Adi-lila 17.9

(3) Veja: Significado CC Madhya-lila, 4.111

(4) Veja Significado CC Adi-lila 7.51, Significado. SB 11.2.45

(5) Jayadvaita: “Because we see … For instance, sometimes the äcärya may seem to forget something or not to know something, so from our point of view, if someone has forgotten, that is an imperfection.” Prabhupäda: “Then you do not understand. Acarya is not God, omniscient. He is servant of God. His business is to preach bhakti cult. That is acarya.” VedaBase, My Glorious Master, 8-23: A Snake, a Rope, a Scorpion, or a Crab?

(6) “But guru means one who knows the science of Krsna and teaches properly. That’s all.” Room Conversation — January 31, 1977, Bhuvanesvara

(7) O Senhor Caitanya, por exemplo, recebeu de seu guru, Isvara Puri, o mantra de 10 sílabas, não o maha-mantra Hare Krishna, e também não recebeu dele um número fixo de vezes para cantar o mantra diariamente.

(8) Hari-bhakti-vilasa 1.74, CC, Adi 1.35 significado. Existem muitos outros exemplos em conversas e aulas, onde Srila Prabhupada enfativa essa instrução que o guru deve testar o discípulo e o discípulo averiguar o guru.